quinta-feira, 18 de novembro de 2010

CORRIDAS NO MINEIRÃO - 100 MILHAS DA INDEPENDÊNCIA

ALGUNS ASPECTOS INTERESSANTES DESTA PROVA

A expectativa que se criava para a realização da prova e a forma de comunicação da época: telegramas que avisavam que determinados pilotos não correriam por algum problema, o piloto do Galaxie que falsificou a autorização para participar da corrida, que, na realidade, estava apenas querendo dar umas voltinhas e conseguiu treinar com um carro praticamente de rua e o envolvimento dos meios de comunicação que davam ampla cobertura às provas, tanto antes, como depois e o apoio de logística, combustíveis, que os pilotos locais e organizadores davam para os pilotos visitantes havendo uma maior interação entre eles, o que é inconcebível nos dias de hoje. Fora a Polícia Militar que esqueceu-se de mandar a ambulância gerando atraso na largada para a tomada de tempo.

O Elgar GT 104 do piloto Luiz Barata antes da prova

Em uma das disputas mais empolgantes vistas no autódromo improvisado do Estádio do Mineirão, o mineiro Clovis da Gama Ferreira, pilotando um AC/Martini 2000, venceu as II 100 milhas da Independência, corrida realizada na terça-feira em 05 de setembro de 1972 como parte das comemorações do 7 de setembro na capital mineira. Logo em seguida ficou Sebastião Venâncio com um opala 4300, que recebeu a bandeirada a menos de um segundo do vencedor. Cleomar Resende – Tala – representando Goiás, chegou na terceira colocação pilotando um protótipo VW 2200. O melhor brasiliense a se classificar foi o Luis Barata, a bordo de um Elgar com motor 1600, chegando na 6ª colocação na geral e 1ª na categoria.

DA CORRIDA

Mesmo marcada para a terça feira, nos dias anteriores à prova, a agitação era total em BH. Os mineiros, que não realizavam corridas há um ano, apesar de possuir bons carros, esperavam a chegada dos pilotos de fora, que dariam grandes disputas. A esperança, em parte, foi perdida. Das 13 inscrições reservadas pelos brasilienses, apenas 2 foram confirmadas. A ausência dos outros não satisfez aos mineiros, senão pelo menor numero de participantes, pelo menos pelos gastos que foram obrigados a enfrentar com o pagamento de taxas de seguro e outras despesas.

Desde o princípio, sabia-se que a disputa principal seria entre os dois Opalas inscritos, o AC/Martini, e um corcel feito pelo Departamento de Competições da Bino, carro com que o Emerson Fittipaldi havia corrido em BH no ano anterior. Os brasilienses e goianos eram olhados como uma incógnita, pois não se conhecia muito do rendimento de seus carros.

Desde a chegada, estes pilotos foram cercados das maiores atenções, com relação a estada, assistência mecânica para os automóveis, obtenção de combustíveis de avião e um sem número de problemas que os locais se prontificaram a resolver para os visitantes.

DA ORGANIZAÇÃO

Fazer corrida em lugar onde a Federação Automobilística não possui diretoria e nem corpo, é difícil. Mas a fórmula adotada pelos mineiros funcionou. Pegaram os pilotos antigos, pessoal que gostava de corridas, técnicos e amigos do esporte, montou-se um esquema, e o negócio funcionou, tendo apenas um problema: o atraso do treino, motivado pela Polícia Militar que esqueceu-se de mandar a ambulância solicitada para a pista. Fora isto, tudo correu bem. No treino, uma surpresa: um Galaxie 500 bordô, silencioso com para-choques e grade, alinhou para as tomadas de tempo, pintado com o numero da equipe Casari-Brahma.

Algumas voltas na pista e o motor começou a ferver, o que motivou a sua parada. Logo após o treino para reconhecimento de pista, foram tomados os tempos para a largada do dia seguinte. O Opala 21 correndo com apoio da Motorauto marcou a melhor volta, com 1.27m seguido de outro Opala, 36, com 1.27,4m e do AC, que acabou sendo o vencedor, com 1.31.2m. Luiz Barata, o primeiro brasiliense a classificar-se, estabeleceu o sexto tempo de volta, com 1.36.1m. Um Puma, com o nº 83, marcou o 4º tempo. Sua preparação custou a maior soma que já se gastou no Brasil para acertar um automóvel, cerca de 150 mil dinheiros da época.

Mas já no treino, percebia-se que o piloto e o carro não se entendiam bem. Era muita máquina para ele e o seu rendimento ficou muito a desejar.
No dia seguinte, com o circuito isolado e protegido – mesmo assim o público invadia a pista – foram realizadas as corridas. Primeiro, a de estreantes. O Galaxie não estava presente. Logo a explicação dos organizadores: descobriu-se que a autorização expressa para a participação do automóvel na corrida era falsa. Foi proibido de participar. Dos que largaram, o Opala 3 (SS 4100) com Jorge Carone e o VW 32, com Renato Nascimento, fariam a melhor disputa, tendo Carone perdido a corrida na última volta, quando rodou.

A prova principal, realizada pouco depois do encerramento da bateria de estreantes, mostrava tensão na largada. A disputa entre os dois Opalas, o AC e o VW de Toninho da Matta, destacava-se das demais. Da Matta largou em último, pois na véspera da prova seu motor havia devorado uma válvula, impedindo-o de fazer tempo para a classificação. Baixada a bandeira, a tradicional volta de apresentação, tendo à frente um Opala Cupê. Os carros regiam com o aquecimento dos motores. Na primeira fila, os dois Opalas. Em seguida, o Puma (o de 150 mil dinheiros) e o AC, e logo atrás o Elgar ao lado do protótipo VW de Jefferson Cardoso, de Anápolis.

Atrás, um festival de volkswagens. Completada a primeira volta, o Opala21 passou liderando, seguido do outro, o 36, logo após o AC, o Puma. Colados nos líderes, o protótipo de Anápolis e o Elgar. Atrás, uma disputa muito grande com muita troca de posições entre os pilotos. O grande ausente, o Corcel Bino, teve justificado a sua não participação, através de um telegrama chegado à última hora, dizendo que o caminhão que o transportava estava quebrado em Santa Catarina.

Logo o Opala nº 36 de Nelson Weiss deu entrada no Box com pneu furado. Em seguida, foi a vez de Toninho da Matta. Pneu também furado. O Opala 21, com Sebastião Venâncio, começou a ganhar terreno, deixando para trás o AC e os outros concorrentes. A inexperiência de alguns pilotos, entretanto, começou a trazer benefícios para o AC de Clóvis da Gama Ferreira. O Opala constantemente perdia terreno nas curvas, amarrado pelos concorrentes mais lentos. Com isto o AC foi-se aproximando, até que em uma destas manobras, o Opala foi ultrapassado, recebendo o AC e seu piloto, enormes aplausos do público disposto nas proximidades das áreas dos boxes.
O outro Opala, de Weiss (que finalmente se acertou com o carro fazendo excelentes tempos), tornou a parar nos boxes: freio e carburação. Quando se pensou que o panorama da prova estava definido, descobriu-se que o Opala 21 aproximava-se cada vez mais do líder, apesar do motor do GM estar falhando. Mesmo assim, a diferença entre os dois diminuía volta a volta. Por seu lado, Weiss apertava o Opalão, usando todos os seus cavalos de força. E foi-se chegando nos líderes. Entre estes, um goiano, Cleomar Resende, o Tala, que com seu protótipo VW sem teto, fazia uma corrida despercebida, ocupando, porém, uma excelente 3ª posição que manteve até o fim.

Weiss e o Opala 36 ultrapassaram Barata (Elgar nº 19) e Jefferson Cardoso (PT VW 1900), ficando em 4º lugar.

A briga na frente perdurava até a última volta, quando o Opala tomou a curva dos boxes por fora, esperando para passar o AC por dentro. Na hora exata da ultrapassagem, o Opala engastou, embolou e o AC recebeu a bandeirada de chegada, depois de 90 minutos de excelente disputa.

(Fonte, jornais da época. Fotos, acervo de Fábio Barata e reprodução)

3 comentários:

  1. Jovino
    Está primeira foto do Elgar está muito bonita.
    No mês passado estive em Minas e os mineiros, como você disse aí, são muito hospitaleiros. Eles me levaram para conhecer o circuito em volta do Mineirão.

    Interessante que quando a gente houve falar sobre corrida em volta do Mineirão fica com uma falsa impressão de que seria um oval. Mas não, a pista tem muitas retas e curvas, gostei bastante dela.
    Vamos ver se o Edu "Malavéia" vem aqui contar a sua epopéia com o Galaxie.
    Abraço.

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  2. Comentário do Catanha enviado para o meu email:
    "Jovino,
    não consigo fazer os comentários no Blog.
    Nessa corrida eu e o Nelsinho Piquet estavamos correndo na categoria VW 1600. Eu estava em 1º e o Nelsinho em segundo. Tive que parar no Boxes com a segunda marcha travada. O Pedrão mandou eu seguir assim mesmo. Logo que voltei a segunda soltou e ainda cheguei em segundo atras do Nelsinho. Foi emocionante. Nessa viagem é que foi a história do jacaré.
    Abç
    Catanha"

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  3. Sidney, é uma vontade que eu tenho também de fazer, conhecer o circuito do mineirão.
    Quer dizer que o dono do Galaxie era o Edu Malaveia?
    Vamos esperar para que ele venha aqui para esclarecer esta sua participação nesta prova.
    Jovino

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