terça-feira, 19 de junho de 2012

TRADIÇÕES BRASILIENSES - PASSADO E PRESENTE

Brasília pelo fato de ainda ser uma jovem cinquentona, muita gente acha que não temos tradições e desconhecem algumas delas, além dos tradicionais conhecidos malfeitores que habitam uma casa bem conhecida aqui.

PIZZARIA DOM BOSCO

A comercial da foto abaixo é a 107/108 sul onde fica a conhecida "Rua da Igrejinha" e onde tem a Pizzaria "Dom Bosco", "a melhor pizza de Brasília".

É uma pizzaria numa pequena loja onde os fregueses ficam em pé ao lado do balcão e vão pedindo as chamadas "duplas", duas fatias de pizzas (uma fatia sobre a outra), que tem um único sabor: (Mozzarela, molho de tomate especial e orégano).que saem de dez em dez minutos (uma espécie de "Delivery" ao contrário), e é frequentada por quase toda classe social de Brasília, desde os assalariados, até os mais abonados e o seu segredo de sucesso é apenas este: o de ter apenas um sabor e se manter fiel há mais de 50 anos.

Várias vezes, durante a madrugada e depois das farras noturnas, uma das poucas opções de se fazer um rango era na Pizzaria Dom Bosco que ficava aberta até mais tarde.

Mais recentemente, quando fundamos o Puma Clube de Brasília, depois das nossas reuniões, passávamos lá com um monte de puminhas para matar a fome.

Comercial da 107/108 sul, ontem. Provavelmente, no final dos anos 60: fusquinhas, Gordinis, Dkws, Kombis... Tudo muito colorido e arrumadinho. Esta era a Brasília que todos nós aprendemos a gostar dela: pequena, simples e organizada.
Comercial da 107/108 sul, hoje. As árvores cresceram ou foram plantaram outras e encobrem algumas lojas da comercial. O colorido dos carros de outrora deram lugar para os já manjados carros "pretos e cinzas" que há muito acabaram com a beleza e diversidades de cores e mantem um aspecto cinzento de nossas ruas.
O mineiro Enildo Veríssimo, que, ao lado dos irmãos Hely e Elcir, tocam a pizzaria Dom Bosco.

PASTELARIA VIÇOSA
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A Pastelaria Viçosa é tão antiga quanto a Pizzaria Dom Bosco, e, também, existe até hoje na rodoviária do plano piloto e mais recentemente, na asa norte.

Na época, eu havia mudado com toda a família para o "Cruzeiro", um bairro aqui do Plano Piloto, e estudava a noite e a minha irmã mais velha, que trabalhava no Palácio do Planalto com o "o adorável Emilio Garrastazu Médici", recebera um apartamento lá no Cruzeiro e o nosso pai, um pouco conservador, não deixou a jovem inocente morar sozinha e todos nós mudamos para lá com ela. 

Pegava o ônibus na asa norte perto de meia noite após sair da escola, mas tinha que passar lá na rodoviária para pegar o temível ônibus que fazia a linha do SMU (Setor Militar Urbano, e que era cheio de recrutas baderneiros). O pastel da rodoviária com o caldinho de cana, o prato típico de Brasília, era o que nos salvava quando o estômago começava a roncar.

De JK a operários, políticos e artistas, brasileiros e estrangeiros já alimentaram sua fome, ressacas e sonhos no balcão da Viçosa. E, até hoje, continuam alimentando, seja no frenesi da Rodoviária ou no aconchego familiar da loja da Asa Norte.

Pastelaria Viçosa, ontem. Nos idos dos anos 60 na Rodoviária de Brasília e que matava a fome nas noites friorentas dos apaixonados por automobilismo, como eu,  quando da realização dos "Mil km de Brasília".
Pastelaria Viçosa, hoje. Na Rodoviária de Brasília, a tradição se mantém até hoje e com pouco mais de R$ 3,00 come-se um pastel e um caldinho de cana.

E AQUELAS QUE NÃO EXISTEM MAIS
JOÃO DO FRANGO

Eles eram uma espécie de "Só Frango" da época e ocupavam uma grande área no final da asa norte.

Na realidade, além de restaurante que funcionava em frente à W3 Norte, era um grande matador. Quando criança, eu e uns amigos fomos lá visitar as instalações e entramos na seção de abate dos frangos.
Havia uma grande quantidade de funcionários que trabalhavam lá e os frangos ficavam perfilados e pendurados depois de abatidos e cada funcionário tinha uma função para dilacerá-los.

Nunca tinha visto aquilo e ficamos estarrecidos com tal matança. Parecia aquele filme romântico "O Massacre da Serra Elétrica" quando os jovens entram no frigorífico onde eram dilacerados os convidados indesejados.
E nós éramos indesejados lá dentro.

Logo apareceu um segurança truculento e nos convidou, gentilmente, para deixarmos as dependências daquele ritual satânico de assassinato das inocentes penosas.

Mas o grande prejudicado era o meio ambiente e o cerrado que ficava ao lado, pois eles despejavam uma grande quantidade de restos mortais dos frangos naquele local, principalmente, penas, que se espalhavam por todo canto e junto com eles vinham os outros visitantes indesejados, os urubus.  

Uma vez, eu e o amigo "João Feirinha" pegamos a vara de pescar do meu pai e fomos pescar urubus. Fazer o que com eles!!! Não tínhamos a menor ideia, mas lançamos a linhada da nossa vara de bambu com um enorme anzol em direção aos urubus com um pedaço de carne e só vimos quando um bocado deles voaram para cima da isca.

Um dos comparsas foi fisgado e ele saiu voando desesperado e não tínhamos como dar mais linha, pois ela era muito curta e só a vimos ser esticada até se quebrar e o nosso flamenguista desaparecer no ar.

Outra vez, queríamos matá-los, talvez, em nossa mente diabólica, exterminá-los um por um.

Tínhamos as nossas armas letais de matar passarinhos, os nossos inseparáveis estilingues. Quando vimos um urubu enorme em cima de uma árvore, aí eu peguei o meu e o armei com uma pedra e estiquei todo em direção ao urubu acertando-o em cheio bem no peito. Mas o cara nem sentiu, apenas matou a pedra no peito e continuou no seu repouso como se nada tivesse acontecido.
Aí, desistimos da nossa empreitada de extermínio voluntário dos Urubus para melhorar o meio ambiente e o mau cheiro da asa norte.

Desde aquela época, sem ao mesmo sabermos, já nos preocupávamos com a hoje cultuada preservação do meio ambiente (estávamos além do nosso tempo!!!).

RESTAURANTE CACHOPA

Mas tinha também um restaurante que ficava na "Galeria Nova Ouvidor", acredito, no Setor Comercial Sul.

O restaurante era o "Cachopa", bem lembrado pelo meu amigo "Rodolfo Plasticostea" que viveu aqui naquela época.

Era um restaurante fino, bem montado e segundo os especialistas de plantão, lá, saboreava-se o melhor bacalhau da cidade.

Lá tinha também uma cantora "muito educadinha para os nossos padrões", filha do português, dono do restaurante, e que se dizia cantora de "fados" e executava o seu repertório ao cair da tarde para alegrar os fregueses.

Certa vez, houve um show musical em algum lugar aqui em Brasília, que não me lembro mais onde, daqueles shows ao vivo onde se apresentavam vários artistas.

E a refinada filha do português do dono do restaurante "Cachopa" foi a primeira a subir no palco e começou a puxar os sonolentos "fados" quando a "seleta" plateia de "gentes boas" começaram a vaiá-la ininterruptamente e gritando: "cai fora!!!". Até que ela se mancou e saiu de mansinho reclamando daquele público "mal educado".

Detalhe: o público era totalmente de roqueiros metálicos, e o pessoal estavam ali era para ouvir, Sabbath, Deep Purple, os ícones da pauleira roqueira da época.

Mas certa vez, a minha outra irmã, que acabara de entrar no Tribunal Regional do Trabalho, me convidou para irmos jantar lá no "tal Cachopa", pois o seu chefe estava fazendo aniversário e iria comemorá-lo lá.

Não sabia nem onde colocar as minhas mãos (coisa de adolescente bocó deslumbrado com o ambiente refinado), e comi o pior bacalhau da minha vida, pois, apesar de todas as pompas e frescuras (com velas e bons vinhos), nos serviram um prato que tinha 20% de bacalhau desfiado e 70% de cebola, que se embaralhavam um no outro formando um quebra cabeça para separá-los e eu detesto cebola.

Passei, na encolha, todo o jantar garimpando as partes comestíveis de bacalhau e deixando no canto do prato uma pequena montanha das desprezíveis cebolas bem fininhas, acabando com a minha expectativa de comer num bom restaurante. Se aquilo era bom restaurante, xô Satanás!!! Preferia os pasteis da rodoviária e as pizzas da Dom Bosco.
Quando, do show ao vivo, vi a tal "cantora cantarolar os seus fados", foi uma espécie de vingança não premeditada quando a galera a vaiou e eu também.

22 comentários:

  1. Fabiani C Gargioni #2719 de junho de 2012 às 22:55

    Legal Jovino, como toda cidade Brasília tem as suas peculiaridades, mas em se tratando da nossa Capital Federal fica mais legal, parabéns!!!

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  2. Fantástica matéria Jovino,parabéns o antes e o depois, a Rua da Igrejinha ficou irreconhecível de tanta vegetação mal da de vê-la, boas lembranças também me vieram a minha memória da época que aí morei, só faltou o Kazedre 13, e os restaurantes que ficavam na W-3 Sul o Caravelle, Espaguenetta (não sei se é assim que se escrevia)Loja Paranoá de roupas finas tudo era perto do Mocambo, menos a pizzaria Kezebre, e se eu soubesse que era assim o João do Frango teria pedido ao meu pai para não mais levar a família comer lá aos domingos, Cachopa então o prato era cabolas ao bacalhau...rsss...abração.
    Rodolfo.

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  3. A foto da Rua da Igrejinha nos anos 60 é fantástica, Jovino. E, para citar outros santuários da gastronomia candanda de outrora, o Espanhol, na W3 Sul; o Augustu's, onde hoje fica o Xique-Xique da Rua da Igrejinha; o Nippon da 413 Sul (desativado no ano passado, infelizmente); e o ainda presente e tradicionalíssimo Roma, também na W3. Lembrando as lanchonetes, que tinham personalidade própria diferentemente das franquias de hoje, Zeppelin e Truc's, na Rua da Igrejinha; e Good's, que ficava ao lado do Cine Karim, na EQS 110/111. Ê, saudade... Abraços.
    DAVID VARCHAVSKY

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    1. O Domingo à tarde no Good's era onde os botas desfilavam seus carros ..... rsrsrsrs

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  4. Fabiani, Rodolfo e David,
    Eu praticamente sempre morei na asa norte quando cheguei aqui em dez de 65. Morei 1 ano no lago sul, mas depois voltei e moro até hoje na asa norte. Então, vivi mais a asa norte do que a sul, apesar que, naquela época, tudo era na asa sul. Lembro-me de todos estes estes bares e restaurantes, em especial o Goods da 110/111 sul, pois foi lá que acompanhei todo o movimento Punk da época. Não lembro-me do Mocambo, pois era menino ainda, mas houveram muitos bares da moda e que desapareceram depois de alguns anos. Estamos esquecendo também do tradicionalíssimo Beiruti, que, por muito tempo, foi o Point dos Play Boys alternativos e de artistas de Brasília e que funciona até hoje. O iteressante do Beirute ou Gayrute para muitos, é que na sexta tem um público bem GLS e no sábado e domingo não.
    Jovino

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    1. Vocês estão esquecendo do Sereia na 211/212 acho, que era familiar até as 9:00Hs e depois era point das Damas da Noite ..... rsrsrsrs

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    2. ops; GOODS( UN PEDACINHO DO RIO SOB O CEU DE BRASILIA ) ficava na sqs 112 sul,no karim ficava o FOODS,ate carlos.

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  5. O Roma na W3 era uma ótima opção para a madrugada... a Dom Bosco é lenda viva! até hoje, mesmo não sendo meu caminho, passo lá até duas vezes por semana, desde 1964.

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    1. Ei Zé e o Bar Bem na 109 que tinha aquela Batida deliciosa né ?????

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  6. A Aglaís, minha "frau", sempre fala dessa Pizzaria Dom Bosco.
    Abraço

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  7. Cara quantas lembranças boas, principalmente p/ mim que já estou fora tem 18 anos, parabens.

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  8. Amigo e Historiador Jovino , não pode esquecer do Espanhol na W-3 sul 506 - era uma das boas alternativas, e disputava com o caravelle e com o Mocambo sem falar no Chevilly - Grande Brasília em que eramos felizes e sabíamos ,Tinha também o Restaurante do G.T.B. ( Grupo de trabalho de Brasília ) que ficava aonde hoje é a Biblioteca Demonstrativa de Brasília , entre a 506 / 507 sul . Comia bem e era barato - pegava todo mundo ! !!!

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  9. É, Brasília sempre teve ótimos restaurantes que ao longo do tempo foram ficando tradicionais e muitos já não existem mais como os citados pelos meus amigos. Mas a Dom Bosco e a Pastelaria Viçosa se mantêm firme há mais de 50 anos.
    Brevemente falarei mais sobre outras casas tradicionais de Brasília.
    Jovino

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  10. tradição em Brasilia não falta mesmo com poucos anos de vida e não tem que ser só em restaurantes pois ai vão outras (BIBABO, Brasal, Disbrave, caneco 14, food's, good's,Bier, roler center, Gilberto Salomão, ) e muitos outros lembrando de passar na prainha p/ namorar um pouco e claro os pegas do Caseb, balão do aeroporto e outros

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    1. Pega do Caseb !!! lembro uma vez durante um pega, quando quebrei para esquerda para passar do lado da lateral do caseb (em frente a cultura inglesa hoje), subia um maluco no sentido contrario (mão dupla naquela época), não deu outra, raspou toda lateral da belina da minha mãe novinha e pra chegar em casa? pensa ...

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  11. Meu Deus!! Um filme passou pela minha cabeça agora! A cada nome lido vinha imediatamente a imagem do lugar!! Muitos nunca entrei, nem nascida era, mas a pizzaria Dom Bosco é inesquecível! Junte a pizzaria Germana (315sul), os primeiros Giraffa's (210sul), Truc's (que era o concorrente do Giraffa's), a sorveteria Kibbon (na 102 ou 302 sul? Não lembro...), o fliperama do Gilberto Salomão, o cinema 180°, o Arabeske, a pamonharia na asa norte que nunca lembro o nome... E a lembrança mais recente (cronológica) é o K'rangas na 215sul (sanduíches inacreditavelmente maravilhosos) e o cachorro quente na 308sul. Ai saudade...

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    1. Pamonharia Kalu, antes ficava na 110 sul eu acho, em frente ao Beirute.

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  12. Como também não lembrar do Salamanca da 112 sul. As Paellas.
    muito legal

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  13. E tem O Palhoça no setor de postos que funciona até hoje .......

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  14. Só uma correção, melhor pizza de Brasília, dos velhos tempos, sempre foi do Kazebre 13 ma 504 sul

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  15. Mocambo foi um boteco muito bacana do meu amigo Carlo Arena.

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