segunda-feira, 13 de outubro de 2014

DO BAÚ DE JOSÉ AUGUSTO VARANDA - CIRCUITO DE PETRÓPOLIS

Documento histórico sobre o piloto carioca Aylton Varandas em corridas em Petrópolis que foi disponibilizado pelo José Augusto Varanda, filho de Aylton Varanda, relatando as provas em que seu pai participou com diversos carros neste circuito que marcou a história do automobilismo brasileiro.
 
Esta foi, na minha opinião, a época de ouro do automobilismo brasileiro, onde as marcas começavam a brigar entre elas, carros históricos como DKWs, Alfas Romeus, JKs, Berlinetas Interlagos, Karmann Ghias, Simcas, fuscas e até Brasinca.
 
Veja o relato abaixo de José Augusto Varanda e as belas fotos.
 
"Na primeira, vemos um pega entre o JK Nº 65, de Mário Olivetti (fazendo a propaganda para a campanha à eleição de Juscelino) e a Berlineta Nº 2 de Wilsinho Fittipaldi, que não havia largado tão bem quanto Mário. Nota-se a presença de grande público e o precário esquema de segurança, com apenas um pretenso cordão de 'isolamento', mostrando que o empenho de Aylton não havia surtido efeito.

Fotos raras do circuito de Petrópolis no Rio de janeiro do Baúde José Augusto Varandas.

Na segunda foto, a tomada da mesma curva já com Wisinho à frente. O interessante é ver um Aero Willys participando da mesma prova!

 A terceira foto é a da curva mais perigosa do Circuito, com o público em clara situação de risco, posicionado até mesmo em cima das marquises.


 E na quarta um pega entre o JK nº 77 de Amílcar Baroni e o Simca de Jaime Silva.







Algumas fotos da outra prova (Grupo I). Embora os carros fossem de cores diferentes, nas fotos em preto e branco fica difícil distinguir o Interlagos cupê da Berlineta. A diferença mais evidente é a cor do círculo que envolve o número de cada um (preto no cupê e branco na berlineta





Para incrementar o Circuito de Petrópolis de 1963, Aylton e Álvaro convidaram Wilson Fittipaldi Jr. e emprestaram a ele um Willys Interlagos berlineta, azul metálico, que os dois haviam adquirido naquele ano. Álvaro tinha também outro Interlagos cupê, branco, de passeio, e como haveriam duas provas, de categorias diferentes, uma para os carros de menor potência, Grupo I, e outra para mais potentes, Grupo III, puderam fazer a inscrição de Wilsinho no Grupo III, já que a berlineta estava equipada um motor de 998cc (70cv) do Renault 1093 preparado para competição, e os dois primos correram em dupla na outra prova com o cupê, cujo motor era do Renault Gordini, de apenas 845cc (32cv). A parceria deu certo e tanto Wilsinho quanto a dupla petropolitana saíram vencedores nas duas provas. A sequência de fotos foi feita na comemoração das vitórias: Na primeira vemos Wilsinho ladeado por Álvaro e Aylton. Na segunda, num grupo maior, aparecem: Emerson Fittipaldi (ainda jovem), Álvaro, Wilsinho, Wilson pai (o barão) e Aylton. Na última, Álvaro e Aylton (de capacete) com Luiz Antonio Greco, na época chefe da equipe Willys de competição.


 
Aylton só voltou às corridas em 1963, no VIII Circuito de Petrópolis. Mas para contar um pouco dos contornos dessa prova, é preciso retroagir ao ano de 1960: Aylton era membro da Câmara Júnior de Petrópolis – uma instituição internacional (não sei se ainda ativa), cujo objetivo era reunir jovens empreendedores para trabalharem em prol do desenvolvimento das suas cidades – e estava muito preocupado com o possível banimento do circuito de rua, já que havia um movimento forte nesse sentido, como de fato acabou acontecendo. Ele, ao contrário, tinha um projeto para ampliar a segurança da corrida e também seu escopo, de forma a fazer com que a prova se consolidasse como um grande evento anual da cidade, como ocorre hoje em dia com Mônaco, na Fórmula 1. Então, juntamente com companheiros da Câmara Júnior e com a ajuda de seu tio Cordolino José Ambrósio (avô de Kaká Ambrósio), que na ocasião era Deputado Estadual e Chefe da Casa Civil do Governo do Estado, foi recebido pelo Governador Roberto da Silveira para solicitar a ele apoio ao projeto. Na primeira foto, aparecem, pela ordem, o Governador, um companheiro que eu não consigo identificar mas que, segundo alguns amigos de Petrópolis, poderia ser Jorge Hilário Gouvêa Vieira, Aylton, Cordolino, o jornalista Célio Thomaz (quase escondido) e Germano Valente. Na foto seguinte Aylton entrega um documento ao Governador, observado pelo Prof. Roberto Francisco (pai de Roberto Jefferson) e demais companheiros já citados. Infelizmente, por uma fatalidade, o Governador morreu pouco tempo depois desse encontro, vitimado pela queda do helicóptero que o levaria de Petrópolis à sede do governo em Niterói. Aylton e seus companheiros continuaram mantendo contatos com o novo Governador, Badger da Silveira, irmão de Roberto, mas não conseguiram o apoio que pretendiam para o reforço substancial na segurança da corrida, que continuou acontecendo nos padrões das anteriores. Para os que não conheceram Roberto da Silveira, recomendo assistir um documentário sobre sua trajetória política, feito pelo Canal Brasil. Ele poderia ter sido o sucessor de Jango, se a história não tivesse tomado outros rumos! 

 
Hoje escolhi um registro do momento em que eu e Bia, minha irmã, fomos comemorar com ele a boa corrida que fez em Petrópolis, em ...1967. Na foto aparecem também alguns amigos e familiares, tais como Samuel Dunley, piloto, advogado, casado com Alda Varanda, prima de meu pai (logo atrás de Aylton), Niquinho, piloto, mecânico, amigo e incentivador (encoberto por mim), Ralph, amigo e representante da Castrol, que sempre apoiou meu pai (mais alto ao fundo) e Álvaro Varanda Neto, o Netinho (no canto direito), um primo que infelizmente não vejo há muitos anos.

Ainda em 1963, Aylton e Álvaro voltaram a Interlagos para correr os 1.600 km (acho que a organização resolveu dar um nome abrasileirado para as mil milhas), com a mesma berlineta que haviam cedido a Wilsinho no Circuito de Petrópolis. Em retribuição à parceria firmada em Petrópolis, a Equipe Willys, que não participaria oficialmente da prova, teria emprestado a eles um kit completo de competição (...suspensão, motor e câmbio) mas o carro apresentou alguns problemas mecânicos, possivelmente em função do ‘up grade’ de última hora, e a dupla terminou na quarta colocação. Só consegui a foto da largada, do arquivo pessoal de Geraldo Meirelles, onde a berlineta azul aparece no canto esquerdo. A prova foi vencida pela dupla Ciro Cayres e Jaime Silva, com um Simca (um dos que aparecem na primeira fila, junto com a berlineta).
No ano seguinte, 1964, Aylton participou apenas do I GP do Estado da Guanabara, na Ilha do Fundão, correndo novamente com um JK, e ficou em nono lugar. Eu não tenho foto dessa corrida.
O ano de 64, infelizmente, também marcou o fim da carreira de Álvaro Varanda que, num acidente bobo, trocando o pneu do carro na porta de casa, teve três dedos da mão (a esquerda, se não me falha a memória) decepados pela queda do macaco. Me recordo que, durante os treinos para uma prova (pode ter sido a do Fundão), meu pai ainda insistiu para que Álvaro tentasse pilotar o carro, mas após algumas voltas na pista ele sentiu que não mais teria condições de continuar no esporte, que perdeu assim um grande piloto.


Em 1966, estive em Brasília pela primeira vez, com tio Toninho, o primo Newton Araujo e o amigo Nando Newlands, para os 1.000km, a bordo dum fusca 1200. Foi uma viagem inesquecível, saímos à noite de Petrópolis e chegamos em Brasília pela manhã, numa tocada só. Chegávamos a parar para descansar e ficar deitados no meio da estrada, por longos 15 minutos, sem que passasse qualquer carro. Assistimos a corrida dos boxes, que ficavam na rodoviária do Plano Piloto.
Segue uma sequência de três fotos, com o carro no estacionamento do antigo Hotel das Nações. Na primeira, nota-se o fusca ao lado do Brasinca e, ao fundo eu apareço (de óculos escuros) com tio Toninho, de camisa escura, encoberto pelo carro. O Brasinca teve que ir rodando para Brasília, por isso os para-choques e as placas!





1967 foi um ano intenso e considero que, na prática, marcou a despedida de meu pai do automobilismo nacional. Com a decepção que teve com o Brasinca, no ano anterior, Aylton partiu para um carro mais competitivo. Ao tomar conhecimento que a equipe Dacon, de Anísio Campos, estava encerrando atividades, conseguiu comprar o KG Porsche #2, que fora pilotado por José Carlos Pace (Moco) e, em seguida, a cessão de outro KG # 7 para seu primo Jiquica. Os dois pintaram os carros (orig...inalmente azuis) de branco com a frente vermelha e formaram a equipe JVaranda (a empresa de João Varanda, pai de Jiquica, que englobava uma rede de postos de combustível e a concessionária Chevrolet, em Petrópolis). A corrida de estreia dos dois carros, então equipados com motor de 1.600cc, foi o X Circuito de Petrópolis, disputado no dia 30 de julho, que terminou sendo vencido por Paulo César Newlands, numa Ferrari, com Aylton em segundo e Jiquica em terceiro lugares. A prova mereceu grande destaque na edição de setembro daquele ano da Revista Autoesporte, onde Aylton aparece na capa junto a Paulo César."


 

7 comentários:

  1. Jovino,
    Como sempre você conseguindo pérolas da nossa historia do automobilismo.
    Chamo atenção pelo número de pessoas que assistiam as corridas, enchiam as ruas.
    Hoje sem dúvida, não tem mais este interesse por parte das pessoas.
    Valeu !!
    Rui Teixeira
    Brasilia.

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  2. Jovino, muito obrigado pela divulgação da carreira de meu pai, Aylton Varanda, em seu prestigiado blog. Conte com o meu 'baú', sempre que precisar. Só uma correção, o nome da família é Varanda. Acho que também existe uma família Varandas, pois já conheci pelo menos um representante aqui em Brasília, mas a nossa é no singular mesmo. Forte abraço. José Augusto Varanda

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  3. Obrigado Augusto, se tiver mais material é só me mandar que publico aqui. Realmente fiquei na dúvida, mas verifiquei no texto e apareceu Varandas lá. Vou corrigir no texto. Jovino

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  4. É isso, Jovino vai mostrando um pouco da terrinha, já retorno e voltamos a fazer parcerias...bela matéria...gde abs Saloma

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  5. O Prof. Roberto Francisco (pai de Roberto Jefferson) foi meu professor no C. A. Werneck, e meu pai comprou a casa em que morava, na avenida Sampaio, uma vila perto da Rua Alberto Torres. Qto ao Governador, o acidente foi, pelo que me lembro que falaram qdo visitei a casa do palácio Rio Negro na avenida Keller, na decolagem ... abs

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  6. Pois é Saloma, você tem que voltar com o seu blog, tem muita cosa boa lá. abs. Jovino

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